A companhia Amarelo Silvestre estreia, esta sexta-feira e sábado (10 e 11 de maio), no Teatro Viriato, o espetáculo “Corpo Título”. Com direção artística de Rafaela Santos, direção de movimento de Yola Pinto e dramaturgia de Alex Cassal, é um espetáculo que conta com a participação da Dançando com a Diferença, numa coprodução com o Teatro Viriato, Teatro Académico Gil Vicente e Cineteatro Louletano. "Um espetáculo sobre o Corpo. Sobre o que é o Corpo. Sobre de quem é o Corpo. Sobre o direito ao Corpo. Sobre questões de apropriação do Corpo. Sobre questões de materialização do Corpo. O Corpo que todos julgamos e julgamos que os outros julgam e deixamos que os outros julguem. Esse é o Corpo em cena: uma instalação com performance dentro, com as certezas e incertezas de cada Corpo, com as interseções de Corpos e lugares na estreia deste espetáculo", explica o Teatro Viriato.
De acordo com a diretora artística Rafaela Santos, o projeto surge de “uma inquietação e uma vontade de refletir sobre os corpos quando são obrigados a fazer coisas de que não gostam”. “A ideia foi evoluindo, eu levei – na altura – a questão primeiro para a Linha de Fuga (Laboratório & Festival Internacional de Artes Performativas) e mais tarde para o PACAP (Programa Avançado de Criação em 5 Artes Performativas do Fórum Dança) e comecei pelo meu corpo, por refletir sobre aquilo que me inquietava. Como é que o meu corpo se comportou quando fez coisas que não queria ou foi obrigado a fazer coisas que não queria. Inicialmente, tínhamos o título “Meu Corpo, Meu Produto” porque, por uma questão pessoal, enquanto atriz, também me interessava trabalhar esta utilização do corpo em exposição, a utilização do corpo como instrumento de trabalho em várias situações, até, por exemplo, no comércio do prazer. Mas depois, quando contactei com a Dançando com a Diferença, o espetáculo mudou radicalmente de perspetiva, ficando muito mais aberto e transversal, e essas ideias iniciais ficaram para segundo plano”, explica a encenadora.
Para a equipa de criadores do espetáculo falar do corpo em 2024 é pertinente, uma vez que não fala de um corpo específico, nem de um corpo genérico, sem limites. “Fomos falando progressivamente dos corpos que estão presentes neste espetáculo, não dos corpos que vemos no cinema, na publicidade, andando na rua, de manhã quando nos levantamos, mas destas pessoas que estão na sala de ensaios. E aí, como também são corpos com características e limites muito diferentes uns dos outros, é inevitável falar – e o nome da companhia convidada é esse mesmo, Dançando com a Diferença – não da uniformidade, mas da diferença. Nós ainda não conseguimos superar o corpo, é algo que todos carregamos connosco desde o momento em que nascemos. Todas as pessoas têm corpo, todas passam por questões semelhantes sobre o corpo, mesmo com experiências individuais extremamente diferentes. Um corpo é um corpo. O da Yola, o da Rafa, o meu, são todos corpos muito parecidos, quando olhamos à distância, mas a experiência que cada um de nós carregou ao longo da vida com este pequeno corpo é radicalmente diferente de uma forma que não se consegue compreender, mesmo que cada um de nós conte a sua biografia ao pormenor e compare. E eu acho que o espetáculo é um pouco sobre isto de “são muito diferentes, são só corpos”, refere Alex Cassal, dramaturgo da peça.
"Corpo Título" © Marlene Ramos